15 de Setembro de 2011

Numa manhã cinzenta e a prometer chuva, o que contrariava as nossas expectativas e as previsões da meteorologia que tínhamos consultado previamente, partimos pelas nove horas, da Sé Catedral do Porto, fresquinhos como cinco rosas, acabadas de colher, rumo à nossa grande aventura – percorrer o Caminho Português, na versão central, até Santiago de Compostela.
Percorremos inicialmente o centro histórico do Porto, começando a seguir as nossas primeiras setas amarelas (setas essas que nos iriam acompanhar até ao final da nossa jornada), entramos na Rua de Cedofeita e atravessamos toda a restante cidade do Porto, com a confusão de trânsito de um dia de semana e de muito trabalho até à Circunvalação.
Já fora da cidade, passamos por Padrão da Légua, Leça do Balio e um pouco antes de passarmos no cruzamento de Moreira da Maia, perdemos o rasto às setas e enganamo-nos no caminho e seguimos a estrada para o aeroporto, tendo pedalado pelo menos mais uns seis km até voltarmos ao ponto correcto.

Corrigido o engano, fomos seguindo novamente as setas e passando por outras pequenas localidades, ora pedalando, ora parando para tirar fotografias, até à nossa primeira paragem com intenções de se colocar mais um carimbo nas nossas credenciais e de tomarmos o cafezinho da praxe. O local escolhido, foi um café em Bagunte.

Antes dessa primeira paragem, já o Mascarenhas nos tinha pregado um grande susto ao cair na estrada, queda essa provocada por uma abelha que entrou pelo capacete e lhe ferrou na fonte. Não passou mesmo de um susto, de umas pequenas arranhadelas e de uma ligeira dor no músculo da perna, doutra forma, não sei como seria a nossa viagem nem vale a pena pensar nisso agora.
Carimbo na credencial, café no papo, seguimos novamente viagem com toda a pressa, já que tínhamos intenção de almoçar a Barcelos e a hora do almoço aproximava-se cada vez mais.
Passamos Vairão, Macieira da Maia, atravessamos o Ave na ponte medieval D. Zameiro, tiramos fotos a esta ponte e a outra que mais à frente apareceu, bem como a cruzeiros e outros pontos de interesse pelo caminho até que chegamos à belíssima localidade de S. Pedro de Rates.

Ai, na igreja paroquial, um simpático padre carimbou-nos as credenciais e ainda teve tempo para dialogar connosco, sobre a nossa aventura, desejando por fim a todos nós um – Bom Caminho.
Como é tradição, fomos ainda procurar mais um carimbo ao Macedo’s Bar e também aí fomos bem recebidos, tendo mesmo o dono do bar nos pedido para tirar uma foto do grupo com ele, uma vez que tinha gostado imenso do nosso equipamento rosa da Lampre. Foram mais umas fotos de grupo para mais tarde recordar e quem sabe um dia, veremos essa foto nas paredes do bar.

Sabíamos de antemão, que um dos mais lindos carimbos que poderíamos obter para a nossa credencial, ser o do Albergue de S. Pedro de Rates e que caso este estivesse fechado, que o mesmo se poderia obter numa mercearia. Foi mesmo esse o caso, o albergue estava fechado e conseguimos o carimbo na mercearia da D. Lurdes, se não me engano no nome.
De volta ao caminho que o tempo voa e o ratinho já nos rói na barriga, optamos por seguir o conselho do amigo Mário Dantas e irmos almoçar a Pedra Furada, localidade que se situa a cerca de 15 km de Barcelos, e ao restaurante com o mesmo nome.
Se bem me lembro, já passava bem da hora e meia, quando os cinco comensais se sentaram à mesa do Restaurante Pedra Furada, para descansarem um pouco, saciarem a sede e deliciaram-se com umas papas, uns rojões e cozido à portuguesa, isto é, caso a caso, senão não poderíamos pedalar com o peso da barriga e de pratos tão pesados mas muitíssimo bem confeccionados.

Temos a agradecer a enorme simpatia e disponibilidade do senhor António Herculano Ferreira, que nos recebeu no restaurante, nos permitiu guardar as bikes, nos fotografou, nos convidou a tomar café na esplanada e ainda teve a amabilidade de colocar, logo no próprio dia, as fotos que tirou no Facebook. Foi um amigalhaço cin ***** co.

A tarde já crescia e sabíamos o muito que tínhamos ainda de pedalar, por isso despedimo-nos do senhor António Herculano e voltamos à estrada, tendo como destino Barcelos onde chegamos pouco depois e aonde nos dirigimos ao posto de turismo, para mais uma carimbadela e umas fotos junto a uns dos Galos de Barcelos, em formato gigante, que estão espalhados por essa localidade e que dela são os seus principais ícones.
Foto aqui, foto acolá, paragem aqui, paragem acolá, fomos seguindo as setas amarelas pintadas e algumas placas com a indicação do caminho e cumprindo alguns rituais, como o de deixar uma pedra num dos muitos cruzeiros que pelo caminho se vão encontrando e a que os novos peregrinos se associam, fazendo o mesmo. Quem diz pedras, diz outros objectos como as vieiras, bonés, pins, fotos, santinhos, etc. Este tipo de ritual, aparece em muitos locais ao longo do Caminho a Santiago.

Fomos passando outras localidades, subidas e descidas, que muito nos deram que fazer até á mais íngreme que nos apareceu neste dia e que foi a subida para Tamel, onde no respectivo Albergue, obtivemos mais um carimbo para a nossa credencial.
Continuamos o caminho, tivemos mais um pequeno engano, com direito a ter que subir o asfalto que descemos e de volta ao percurso correcto, agora sim, descer por uma estrada de terra em péssimo estado, por entre muita vegetação, até ao vale do rio Neiva.
Já no vale, atravessamos o Neiva, na ponte medieval das Tábuas, junto a uma pequena praia fluvial onde se banhavam algumas crianças e, falo por mim, bem me apeteceu fazer o mesmo mas, Ponte de Lima esperava por nós e tínhamos que arranjar alojamento no albergue, pelo que o banho no rio seria substituído por um duche, que todos desejávamos.

Quilómetro após quilómetro, fomos galgando caminho, parando aqui e ali para beber água, comer umas barritas energéticas e tirar mais umas fotos, como por exemplo, as que tiramos numa capela que possui um púlpito exterior e da qual não me recordo o nome nem a localidade, até que deparamos com uma placa no caminho que a todos agradou – Ponte de Lima – 1 km.

Foi a pedalar com muita vontade e alegria que arribamos à avenida de plátanos junto ao rio Lima e a uma Ponte de Lima em finais das suas Feiras Novas e que atravessamos a ponte com direcção ao albergue que se situa na outra margem, logo a seguir à igreja de Santo António da Torre Velha e à capela do Anjo da Guarda.
Registo já muito perto vinte horas, alojamento garantido, bikes estacionadas, banhos retemperantes e jantar à pressa, uns pregos em pão e umas sandes de presunto, pois já não tínhamos tempo para mais, uma vez que o albergue encerra as portas às dez da noite.

Precisávamos de descansar, após este primeiro dia, de termos pedalado cerca de 100 km, e por isso até que vinha a calhar irmos “dormir”, não fosse o caso da igreja, mesmo ali ao lado, replicar os sinos a todas as horas e meias-horas, contrariando as nossas intenções de um bom descanso e de sonhar, ansiosamente com a Serra da Labruja e das dificuldades que teríamos em a vencer.
Mas, essa estória fica para a segunda etapa.
Valdemar Freitas
(António Oliveira, Emanuel Mascarenhas, Mário Dantas e Vítor Godinho)