Vou-vos contar uma pequena história verídica e que se passou na primeira pessoa.
Nestes três meses que levo de recuperação, após a queda de Ponte de Lima, como sabem, optei por seguir as recomendações médicas, não fazendo monte, excepto a presença no passeio da Maia e agora no de Lavra, que ousei fazer por achar que, apesar de terem monte, seriam passeios pouco agressivos, para a minha lesão do braço direito e mais propriamente, para a fractura do rádio, a que fui intervencionado, passados poucos dias.
Se neste último passeio em Lavra me senti muito bem e nem sequer tive tempo para pensar no que tinha no braço, certo é que após o passeio da Maia, andei a penar durante pelo menos dois dias, com dores na articulação da mão direita.
Por isso mesmo, após o passeio da Maia, nos domingos seguintes optei por estrada e a história que de seguida vos conto, passou-se num desses domingos, em que pedalei sozinho, pelas ruas do meu sempre lindo Porto.
Já com alguns, para não dizer muitos, quilómetros nas pernas e já no regresso a casa, tive que parar num semáforo, na Rua Infante D. Henrique, respeitando como deve ser, as regras do trânsito, imensas vezes desrespeitadas, por quem gosta de pedalar e se esquece que também tem carta de condução.
Não digo que nunca desrespeitei essa regra, uma ou outra vez, como toda a gente o faz, seja nas pedaladas, seja na condução, mas dessa vez, parei ainda o semáforo estava a passar do amarelo para o vermelho, com a intenção de beber um pouco de água do bidão e foi nesse momento, enquanto me abastecia, que um senhor idoso, que ia no passeio, se dirigiu a mim, dizendo.
“Posso?”
Foi isto que apenas disse, nada mais ouvi nada da sua boca, nem ele de mim, antes a questionar o porquê de tal pedido ou um porquê, depois do que aconteceu de seguida.
Depois de me interpelar, aproximou-se e fez com o seu polegar o sinal da cruz, no meu braço direito, que ainda segurava o bidão, beijando-me logo de seguida o braço onde tinha acabado de fazer a cruz, seguindo caminho e deixando-me incrédulo e pensativo, com o que tinha acabado de acontecer.
Porque parei naquele lugar e naquele momento, fosse por acaso ou simples destino, ou o que viu em mim esse transeunte, não vos sei garantidamente dizer.
Sei sim, que desde esse dia, pela minha cabeça passou tanta coisa, que essa pessoa talvez tivesse sido alguém que em tempos também pedalava, quem sabe um antigo ciclista ou até que conhecesse algum familiar ou amigo, que tivesse tido algum infortúnio nas pedaladas e dessa forma, no acto que me acabava de fazer, me estivesse a abençoar, pedindo a minha protecção divina.
Fosse um acto de fé ou outra coisa qualquer, para mim, e acredito nisso veemente, será o momento em que fui abençoado, por uma boa alma, querendo o meu bem, senão em tudo na vida, pelo menos enquanto ciclista.
E sendo assim, cá estou e estarei, enquanto tiver pernas e cabeça, a pedalar convosco, abençoado por um Deus qualquer.
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