18 de Setembro de 2011
São sete da manhã e já todos nos levantamos, ninguém quer mais, tão pouco dormir, quanto mais ficar na cama a descansar. A vontade agora é outra, deixar as bikes estacionadas e bem guardadas no parque vedado do hostal e ir a pé até à Oficina do Peregrino para levantar a mais que merecida Compostela, como prova de termos pedalado cerca de 270 km, desde a Sé Catedral do Porto, em Portugal, até à Catedral de Santiago de Compostela, em Espanha.
Possuir a Compostela, é de uma enorme felicidade, para quem percorre os diversos Caminhos a Santiago, quer seja o caminho primitivo, o francês ou o português e, perfaz a pé ou a cavalo, no mínimo 100 km ou 200 km se utilizar a bicicleta, como foi o nosso caso.
A Oficina do Peregrino, situada muito perto da Catedral, atribui a Compostela ao peregrino, depois de se certificar que o titular da credencial, percorreu as distâncias mínimas exigidas, tendo como comprovativos os carimbos/sellos que o mesmo foi obtendo nas localidades por onde passou e nos mais diversos locais onde as conseguiu, como por exemplo, nos cafés onde tomou pequenos-almoços, nos restaurantes onde almoçou ou jantou, nos albergues onde pernoitou e descansou ou nas capelas e igrejas onde rezou e pediu um Bom Caminho.
Enquanto esperávamos na fila, que a Oficina abrisse, fomos ouvindo algumas experiências vivenciadas por um italiano, que tinha terminado no dia anterior, de percorrer a pé, o Caminho Francês, desde Saint-Jean-Pied-de-Port, tendo demorado mais de um mês, pois caminhava durante dois dias, descansando um.
As portas abriram e todo o processo de obtenção da Compostela foi muito rápido pois existem diversos postos de atendimento, localizados no primeiro andar do edifício, que respondem com muita solicitude a todas as questões dos peregrinos e lhes atribuem a Compostela, depois de validadas todas as premissas.
Depois de assinarmos o livro de visitas e já com os “canudos” nas mãos, saímos felicíssimos, parecendo estudantes com o curso superior acabado e, só não atiramos as” cartolas”, digo, os capacetes, ao ar, pois também esses, tinham ficado no hostal.
Dirigimo-nos à Catedral, não para assistirmos à missa, que teria início mais tarde, nem à cerimónia do “bota-fumeiro”, que pelos vistos, nem sempre se realiza, mas sim para dar o abraço ao santo e agradecer-lhe o nosso Bom Caminho e ainda, apreciar o interior imponente do edíficio e tirar mais umas fotos de recordação.
De seguida, fomos às compras, às tartes de amêndoa e às pedras de chocolate, uma vez mais com a sugestão do Mário Dantas, que nestas coisas de adoçar a boca e satisfazer a família, é um entendido por demais.
Com belas guapas a darem-nos a provar estas especialidades compostelanas, não podíamos recusar a compra de tão boas doçarias.
Depois fomos comprar os recuerdos para oferecer aos familiares, amigos e também para nós próprios, tipo pins, t-shirts, terços, brincos, fios, vieiras, etc., tudo lembranças com ícones de Santiago de Compostela ou associados aos Caminhos.
Tínhamos agora que tomar um bom pequeno-almoço para depois regressar ao hostal, fazer o check-out e montarmo-nos uma vez mais nas nossas bikes até à estação de Santiago, onde apanharíamos o comboio até Vigo.
Tomar o pequeno-almoço também teve o seu quê de aventura, pois a exemplo do já tínhamos feito na noite anterior, também nessa manhã, andamos às voltas e perdemos algum tempito, à procura de uns ditos e não menos famosos, enormes croissants, que o companheiro Vítor, havia comido outrora, numa qualquer pastelaria, que nenhum galego nos foi capaz de indicar.
Se não há cão, caça-se com gato, se não há croissants, há bolas de Berlim e outros bolos deliciosos e tudo o resto que precisávamos para aconchegar a barriga até ao almoço, lá para as imediações da estação de Vigo, à qual deveríamos chegar, entre a uma e meia e as duas da tarde, horas espanholas.
Fizemos o check-out, levantamos as nossas mochilas e todos os restantes haveres, preparamos as bikes e partimos a pedalar encosta abaixo, seguindo o Vítor que era o elemento que tinha consigo o mapa que indicava o percurso desde o hostal até à estação.
Na estação, tivemos uma desagradável recepção e uma não muito boa surpresa, ambas com cunho espanhol. Uma funcionária de bilheteira antipática, nada interessada em responder às nossas questões, que chegou mesmo a arreliar o Vítor com a sua sobranceria e uma regra que só permite a viagem, até três pessoas, com bilhetes devidamente validados para o viajante e para a sua bicicleta, a colocar em lugar apropriado junto a uma das portas do comboio.
A nossa regra, “Vamos todos, vimos todos” iria em terras de Espanha, ter uma quebra, pelo menos durante o tempo que iria mediar entre a solução que tivemos à força que tomar.
Como éramos cinco, três iriam no primeiro comboio a sair para Vigo cerca do meio-dia e meia e, já não me lembro porquê, a escolha (sorte) recaiu no Mascarenhas, no Oliveira e no Vítor.
Eu e o Mário Dantas, partiríamos uma hora e vinte minutos mais tarde, num comboio que também demoraria mais tempo a chegar a Vigo, pois efectuava mais paragens.
Das viagens até Vigo, apenas posso falar da minha e acrescentar que na dos “primeiros”, parece que o caldo quase se entornava entre o Oliveira e um arrogante espanhol, que não queria desocupar o lugar que por marcação, pertencia ao nosso ilustre companheiro.
A minha e do Mário, foi pelos vistos mais agradável, pois tivemos por companhia umas belas meninas, mucho guapas por sinal, pouco dormidas, que vinham de uma Rave, em La Coruña e que, connosco travaram um diálogo, que chegou a meter, pasme-se, Quim Barreiros e palavrões da nossa bela língua, ditos num castelhano muito feminino, a fazer lembrar os filmes de Almodôvar.
Reencontro de companheiros na estação de Vigo, fomos à procura de um restaurante para almoçarmos, mais uma vez em cima das nossas “namoradinhas” de duas rodas, nas ruas e avenidas circundantes à estação e junto ao porto de Vigo, não nos podendo afastar muito, pois o Oliveira, não aguentava mais o rabo, em cima do seu maldito selim.
Num qualquer café, situado numa cave, onde nos permitiram descer com as bikes, almoçamos pela última em Espanha, uma refeição normalíssima, tiramos mais uma foto de grupo e ainda trocamos umas piadas com os espanhóis, sobre a cabazada dos 7-0 que o Benfica tinha levado em Vigo, tudo por causa de uma foto que junto a nós estava, do plantel do Celta de Vigo.
De volta à estação, sentados e com muito tempo pela frente, pois o comboio com destino ao Porto, só sairia de Vigo, pelas 18:38 espanholas, vá lá saber-se porquê, os seguranças da estação propuseram-nos que metêssemos as bikes dentro do comboio português, já estacionado na linha de onde deveria partir, no local destinado e nos suportes para esse fim e que por sinal, só davam para 4 bicicletas, tendo a do Mário ficado no chão, encostada e presa a uma das portas que não iria ser aberta durante a viagem.
Com as bikes guardadas, fomos dar uma volta a pé pela cidade, para passar o tempo, apreciar as galegas, as lojas, as avenidas, mas tirando tudo o resto, os nossos olhos só brilharam para as bicicletas Trek, de roda 29, que apreciamos numa montra e para as habilidades que miúdos espanhóis faziam, também com as suas bicicletas, num parque radical para esse tipo de manobras.
De novo na estação, desta vez na sala de espera situada no átrio das bilheteiras, íamos apreciando os viajantes e cometendo mais umas loucuras, bem à moda tuga e que, valha a verdade, não deveriam ser relatadas para não nos envergonhar.
Ele era o Oliveira a fazer imitações de macaquinho, a cantar “Mas quem será, mas quem será, o pai da criança”, juntamente com o Mascarenhas e o Mário, outras risotas e brincadeiras sobre coisas que já não me recordo mas, que fizeram com que o tempo de espera passasse a cem à hora e muito divertido, até à hora em que embarcamos para o Porto.
A viagem para o Porto, foi uma viagem de comboio como muitas outras que todos nós já fizemos e da qual nada à de relevante a dizer a não ser que, era o elo de ligação entre a nossa AVENTURA de quatro dias e a REALIDADE dos dias que se lhe seguiriam.
Valdemar Freitas
(António Oliveira, Emanuel Mascarenhas, Mário Dantas e Vítor Godinho)
Esta foi a maior experiência da minha vida, não por ser a mais difícil ou a mais arriscada, mas por ser aquela onde mais me diverti com grandes amigos e que ficará para sempre e para todos nós, como a nossa grande AVENTURA.
Abraços,
Valdemar
Estou sem palavras, o relato está cin*****co.
Obrigados a todos….pelos momentos inesqueciveis que passei..
Abraços
António Pinto de Oliveira
Subscrevo tudo o que foi escrito anteriormente. É como diria um comediante português, bem famoso “ É de ir às lágrimas “.
Força nas canetas malta para a próxima aventura que nos espera “ Caminho Português de Santiago pela Costa “.