24 de Março de 2013
Abanados, enregelados e muito molhados …
Tínhamos tudo organizado em termos de logística. Já se sabia quem ia e em que carro, local de encontro e hora de partida combinados com antecedência, tracks do percurso definidos e gravados para o GPS do Augusto Tomé e até umas sopinhas, marcadas de véspera, pelo director desportivo, para nos serem servidas à chegada à casa do colmo, em Lamas de Olo.
Já não havia volta atrás.
Mesmo sabendo que o tempo não nos ia ser em nada agradável, metemo-nos à estrada, para o 1º passeio fora de portas, organizado pelo Dar ao Ped@L e para elementos do Dar ao Ped@L.
Pela auto-estrada afora, a chuva até parecia que ia ficar para trás, que quanto mais íamos para o interior, em direcção ao Marão, talvez houvesse algumas abertas por onde o sol descortinasse uns raios de sol, para nos aquecer e dar alegria ao nosso passeio.
Já na Pousada, local onde aparcamos, sem chuva e apenas com uma ligeira neblina, começamos a aprontar as bikes e eis que surge uma surpresa, preparada por mim para todos os participantes.
Para cada elemento, um dorsal verdadeiramente personalizado com fotografia e uma caderneta também personalizada, para registo das participações nas actividades, organizadas pelo grupo, validadas com carimbo e firmadas com a rubrica do director.
Prontinhos e com o farnel às costas, abalamos estrada nacional acima em direcção ao IP4 e ao local de onde seguiríamos, já em estrada de terra, até à Serra do Alvão, o nosso destino.
Esta primeira parte do percurso, que inicialmente não estava prevista, foi-me indicada pelo José Silva, do Alto Relevo – Clube de Montanhismo, de Valongo, amigo de alguns de nós em outras andanças, por ser uma estrada não muito difícil de se fazer, sem grandes pendentes ou declives e por ter ligação ao estradão que teríamos de subir, até às eólicas.
Por aqui já tinham roncado outras máquinas, uns certos bólides que encantavam os fãs de ralis, e agora, eram as nossas onze bikes, que com a força motriz das nossas pernas, nos levavam a percorrer um belo trilho e a deslumbrar belas vistas para os lados da Campeã.
Por esta altura ainda não chovia, a neblina ainda nos permitia tirar algumas fotos mas a coisa ia piorar. Já mais para a frente, num local com bonita vegetação que, mais fazia parecer uma paisagem escandinava, caiu uma grande bátega de água e de granizo que o melhor que tínhamos a fazer era Dar ao Ped@L e, tentar chegar “à casa do guarda”, situada à entrada do estradão, onde nos pudéssemos abrigar, até que a coisa melhorasse.
Qual quê, ninguém quis parar, “molhados por cem, molhados por mil” e toca a abalar estradão acima, durante uns bons quilómetros que, à medida que foram sendo vencidos, mais fechada ficava a neblina, mais a temperatura descia e mais o vento soprava.
Nada se conseguia ver, nada se podia fotografar, restava-nos apenas pedalar serra acima.
E foi o que fizemos, até lá bem ao alto, com uma pequena trégua da chuva, mas com um vento muito forte, forte mesmo, que nem protegidos por detrás de um monte de troncos cortados, mal pudemos retemperar energias, comendo e bebendo alguma coisa e, tivemos que dar ao pedal, para sairmos do estradão e entrarmos num trilho que, por estar numa encosta da serra, mais protegida, nos desse mais conforto.
Podia ser mas não foi. Se o vento era muito menos, a chuva, o granizo e o frio, seriam muito, mas muito mais desconfortáveis.
Não fosse a intempérie, este trilho seria o mais bonito de todos, com uma paisagem serrana, semeada de grandes rochas e penedos, pequenas cascatas e lagos, vegetação e árvores de vários tipos e até mesmo uma pequena albufeira.
Mas o S. Pedro não estava pelos ajustes e cada vez mais nos fustigava, ora com chuva forte, ora com granizo, como que dizendo “quem vos manda a vós, maluquinhos, saírem de casa, com um tempo destes”.
Em todo este percurso, tirando a roda traseira que saiu ao Rui Teixeira, a corrente que fugiu ao Mário Dantas e a passagem de uma carrinha de caixa aberta, percalços que mesmo assim nos fizeram perder pouco tempo e que logo foram resolvidos, não soubemos fazer mais nada do que pedalar a toda a força e fugir ao mau tempo, nesta altura, com um único pensamento na cabeça.
Chegar o mais rápido possível à “casa de colmo”, à lareira, às sopinhas, aos enchidos, enfim, à salvação.
O Café-Restaurante “A Cabana”, foi mesmo a salvação. Não fosse a sala aquecida com a salamandra, só para nós, não sei não se o nosso passeio, em cima das bikes, não terminaria por ali.
Mas assim não aconteceu, e eis-nos no quentinho, a tirarmos toda a roupa ensopada que podíamos, até ficarmos, nalguns casos em tronco nu. À volta e até em cima da salamandra, todo o espaço para secar o que fosse, era pouco e estava completamente ocupado. Era luvas, meias, gorros, jerseys, tudo já torcido de tanta água para o chão, calçado enfiado por debaixo da salamandra e, os mais friorentos sentados em bancos, ao redor do braseiro.
Nessa altura, chegou-nos a assustar, as tremuras do Augusto Tomé que, ou estava com alguma quebra de energia ou mesmo até, num estado de pré-hipotermia.
Valeu-lhe a ele a todos nós, as sopinhas quentinhas, que rápidamente nos foram servidas, bem como o restante conduto, o pão, o vinho e os enchidos grelhados.
Aos poucos a coisa foi melhorando. A roupa não secou completamente, ficou aquecida e ligeiramente enxaguada.
Nós, ficamos apenas mais quentinhos e, já aconchegados com os cafézinhos da praxe, resolvemos partir, para aproveitar os pequenos raios de sol que, envergonhados, resolveram aparecer na hora da nossa despedida aos donos do café, do pedido de desculpas pelos incómodos que lhes causamos e do agradecimento por tão belo “reforço”.
Ainda no asfalto, mal tínhamos contornado a albufeira e aí vem mais do mesmo.
Outra vez a chuva a cântaros, o granizo com a força do vento a picar-nos a cara e nós a termos que fugir outra vez, sem pudermos gozar o trilho, as paisagens, a alegria de pedalarmos, de fotografarmos, enfim de tudo.
Sendo assim, nada a fazer senão pedalar, pedalar, pedalar, fazer o mais depressa o percurso, na mesma com a maldita chuva, o maldito vento e a maldita neblina mas agora tendo em parte, a enorme descida do estradão que tínhamos subido de manhã, mas nem isso nos deu prazer, tal era a força do vento, que nos queria derrubar.
No fim do estradão, para encurtar tempo e chegarmos mais depressa aos carros, resolvemos seguir, não pela estrada em terra, mas sim pela estrada nacional, até à Campeã, seguindo depois em direcção ao Alto Espinho, ao IP4 e, daí até à Pousada do Marão.
Muito massacrados por tão mau tempo, a subida da Campeã até ao IP4, foi um “rabo difícil de esfolar” mas fez-se o melhor que se pode, na esperança que, chegados aos carros, teríamos uma muda de roupa seca que nos agasalharia o corpo e a alma.
Para acabar em beleza, houve mais uma surpresa. Desta vez a cargo do César Pinto, que nos ofertou um Porto de 60 anos, em jeito de brinde ao nosso passeio, momentos antes de tirarmos a foto de grupo, que ficará para a história, como a primeira de muitos passeios, que haveremos de fazer, faça sol… ou pouca chuva.
Abraço de
Valdemar Freitas
a António Magalhães, António Oliveira, Augusto Tomé, César Pinto, Domingos Queiroz, Jorge Bastos, Mário Dantas, Nuno Almeida, Pedro Ferreira e Rui Teixeira
Ora aí está para a história futura do dar ao pedal! Agora……venha a neve!!!!….mas só depois do Verão!!
Não é má ideia, a neve, César Pinto.
Se for associada apenas a algum frio e algum sol, desfrutávamos das paisagens brancas e íamos à Cabana, comer as sopinhas.
Boa Páscoa.
Obrigado e um abraço,
Excelente crónica meu amigo, já estou como o César, venha a neve, mas só depois do Verão, eheheh. Obrigado pelas tuas palavras e companhia. Abraço!
Obrigado Augusto
Venha de lá a neve (sem chuva tudo se faz) que a malta quer é desafios.
Boa Páscoa.
Abraço,
Afinal temos HOMENS do norte, sim que os “senhores” (as) ficaram em casa!… Quentinhos
Excelente páscoa
Obrigado Sousa.
Tu também és um verdadeiro HOMEM do Norte.
Boa Páscoa.
Abraço,