“Ermesinde, 18 de Julho de 2016
Amigo Dar ao Ped@L.
Há muito que ando para te escrever, mas seja por manifesta falta de tempo ou simplesmente preguiça, tenho adiado contar-te, o que ando a remoer, em momentos de solidão ou tristeza, como os que agora me atormentam, diante desta garrafa de saboroso espadal.
Não, não estou ébrio, estou bem lúcido para te dizer que as pedaladas que já tivemos em tempos, me trazem saudades de bons momentos, onde ainda não haviam vaidades, disputas, nem ninguém desejava mais do que pedalar, seja por onde fosse e regressar a casa, cansado, mas feliz.
Agora meu grande amigo, cada vez mais, cada um de nós olha mais para o seu umbigo, para a sua bicicleta que é melhor que a do amigo, que é mais leve, que anda mais, voa, melhor dizendo, que tem de tudo o que é do melhor ou de mais caro, de um mercado que cresce a olhos vistos, dia após dia.
O que há anos atrás eram passeios de amigos, agora são corridas, tudo por culpa das modas, sim das modas das performances, dos objectivos, dos GPS, dos Strava e outras modernices tecnológicas que nos controlam cada vez mais e nos fazem esquecer a partilha, a solidariedade, a alegria e trazem ao de cima sentimentos que antes não existiam, ou pelo menos não eram tão marcantes, dos quais ninguém deveria ter orgulho, sendo que o maior deles, é a tal coisa que costuma, sabes, dar muitas dores de cotovelo.
Chamem-me o que quiserem, antiquado, conservador, velho do Restelo, mas preferia mesmo muito que as bicicletas, fossem apenas bicicletas, que os enganos de percurso, fossem apenas pura diversão, que as pedaladas fossem só actividade física, nada mais do que isso.
Tudo passa e espero que algumas das modas também e que depressa venham melhores dias, onde possamos voltar a pedalar, não de cabelo ao vento, mas livres de tanta coisa supérflua, que nos acorrenta cada vez mais, sejam gadgets, APPs, calendários, estatísticas ou Gostos das redes sociais e outras coisas que tais, pois tu sabes muito bem, do que gosto ou não gosto, ou não me conhecesses melhor que esse maldito Facebook.
Quero voltar a pedalar contigo amigo, logo que possas é certo, com prazer e tempo para tudo, o que aprendemos a gostar e deixamos de fazer, por causa de tanta coisa que é tudo menos convívio.
Um dia destes aparece e juntos vamos pedalar, parar, fotografar, pedalar, visitar, parar, conviver, comer, beber, pedalar, fotografar e viver tudo de novo, outra e outra vez, as vezes que forem necessárias.
Um abraço deste saudoso amigo,
Zé das Pedaladas”
Gostei do que li..
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